7 de mar. de 2012

Colônia Santa Fé – Capítulo final


Havia uma escola para as crianças internadas onde algumas doentes atuavam como professoras. Outras professoras iam da cidade, a cavalo. Segundo o depoimento de uma entrevistada, ex-interna, a primeira professora que ali atuou era filha de um médico, chamada Maria Vitória e trabalhava com salas multiseriadas. E pelos idos de 1967, entrou em atividade uma turma de alfabetização de adultos em mais uma turma do MOBRAL, método de alfabetização criado por aquela época por Paulo Freire...

No prédio onde funciona a administração da Colônia, os filhos de doentes ficavam em observação às vezes durante anos: eram as comunicantes. Dentro de uma rotina diária, acordavam com os passarinhos, iam à missa, passavam pelo refeitório para o café com pão, brincavam, frequentavam a escola. Se estivessem em observação, não podiam entrar nem na área doente e nem na área sadia. Até as missas eram assistidas do lado de fora da igreja, às vezes debaixo de chuva ou enfrentando o frio. Muitas crianças cuidavam dos canteiros da horta, faziam ginásticas e jogavam futebol.

Como opção de lazer os internos contavam com uma praça de esportes, campo de futebol, um pomar e... um cinema! No pavilhão que recebe o nome de Lia Salgado, (na placa de inauguração está registrada a data 8/6/1955) funcionava o cinema, que à administração da Colônia, através do cinema da cidade, cabia a responsabilidade de pagar o frete de trem, para despacho da distribuidora, em Soledade de Minas, o que era feito por trem.

O cinema também fazia às vezes de teatro. Ali o Grupo Teatral Mário de Campos, formado por internos, se reunia para ensaiar e encenar peças teatrais, que eram inclusive levadas para outros hospitais e quando eram encenadas no próprio local, na ocasião recebia-se uma seleta platéia composta por pessoas de Três Corações e de outras cidades da região.

Os jogos de futebol atraíam muita gente. No início dos anos 1960, um jogo contra um time do município deixa o povoado em alerta e estupefato de alegria. Sentia - se que ali estava o começo da quebra de uma barreira erguida até então: seria a primeira vez na história da Colônia que atletas doentes e sãos se enfrentariam numa partida... A instituição guarda inúmeros troféus, taças e prêmios para comprovar que não foi apenas um enfrentamento como esse: o interesse pelas partidas de futebol que atraíam de início os internos e os profissionais da Colônia, acabou por contagiar a redondeza e cidades vizinhas, em eventos disputadíssimos!



Com os avanços da medicina e a evolução da indústria farmacêutica, o tratamento para a hanseníase se viabilizou e houve menos incidência da doença. È interessante observar que muitas pessoas que se curaram continuaram morando ali, em suas casas... Uma comunidade. As instalações, os pavilhões, hoje um memorial a um tempo que ficou no passado, permanecem mesmo que desativados. O hospital, hoje muito bem equipado, atende a pessoas da cidade e da região e nem de longe lembra a época de discriminação e preconceito que acompanhou o início da instalação da Colônia Santa Fé.

Todos os depoimentos tomados para a elaboração deste relato retratam a experiência de vida e a participação de cada um na construção do que, hoje, é o sinônimo da luta de todos.


Profª Mara Silva Costa Chediak

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