Havia uma escola para as crianças
internadas onde algumas doentes atuavam como professoras. Outras professoras
iam da cidade, a cavalo. Segundo o depoimento de uma entrevistada, ex-interna,
a primeira professora que ali atuou era filha de um médico, chamada Maria
Vitória e trabalhava com salas multiseriadas. E pelos idos de 1967, entrou em
atividade uma turma de alfabetização de adultos em mais uma turma do MOBRAL,
método de alfabetização criado por aquela época por Paulo Freire...
No prédio onde funciona a
administração da Colônia, os filhos de doentes ficavam em observação às vezes
durante anos: eram as comunicantes. Dentro de uma rotina diária, acordavam com
os passarinhos, iam à missa, passavam pelo refeitório para o café com pão,
brincavam, frequentavam a escola. Se estivessem em observação, não podiam
entrar nem na área doente e nem na área sadia. Até as missas eram assistidas do
lado de fora da igreja, às vezes debaixo de chuva ou enfrentando o frio. Muitas
crianças cuidavam dos canteiros da horta, faziam ginásticas e jogavam
futebol.
Como opção de lazer os internos
contavam com uma praça de esportes, campo de futebol, um pomar e... um cinema!
No pavilhão que recebe o nome de Lia Salgado, (na placa de inauguração está
registrada a data 8/6/1955) funcionava o cinema, que à administração da
Colônia, através do cinema da cidade, cabia a responsabilidade de pagar o frete
de trem, para despacho da distribuidora, em Soledade de Minas, o que era feito
por trem.
O cinema também fazia às vezes de
teatro. Ali o Grupo Teatral Mário de Campos, formado por internos, se reunia
para ensaiar e encenar peças teatrais, que eram inclusive levadas para outros
hospitais e quando eram encenadas no próprio local, na ocasião recebia-se uma
seleta platéia composta por pessoas de Três Corações e de outras cidades da
região.
Os jogos de futebol atraíam muita
gente. No início dos anos 1960, um jogo contra um time do município deixa o
povoado em alerta e estupefato de alegria. Sentia - se que ali estava o começo
da quebra de uma barreira erguida até então: seria a primeira vez na história
da Colônia que atletas doentes e sãos se enfrentariam numa partida... A instituição guarda inúmeros troféus, taças
e prêmios para comprovar que não foi apenas um enfrentamento como esse: o
interesse pelas partidas de futebol que atraíam de início os internos e os
profissionais da Colônia, acabou por contagiar a redondeza e cidades vizinhas,
em eventos disputadíssimos!
Com os avanços da medicina e a
evolução da indústria farmacêutica, o tratamento para a hanseníase se
viabilizou e houve menos incidência da doença. È interessante observar que
muitas pessoas que se curaram continuaram morando ali, em suas casas... Uma
comunidade. As instalações, os pavilhões, hoje um memorial a um tempo que ficou
no passado, permanecem mesmo que desativados. O hospital, hoje muito bem
equipado, atende a pessoas da cidade e da região e nem de longe lembra a época
de discriminação e preconceito que acompanhou o início da instalação da Colônia
Santa Fé.
Todos os depoimentos tomados para a
elaboração deste relato retratam a experiência de vida e a participação de cada
um na construção do que, hoje, é o sinônimo da luta de todos.
Profª Mara Silva Costa Chediak
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