*Nathália
Rezende Naves
As
origens do carnaval são controversas. Há quem diga que começou no velho Egito
2000 anos A.C., quando o culto à Ísis era realizado por homens e mulheres de
corpos pintados. Outros remetem às Saturninas, bacanais ou dionisíacas, festas
pagãs gregas e romanas em que se comemorava a chegada da primavera com rituais
de fertilidade.
Com
a oficialização do cristianismo pelo império romano a igreja passou a
sacralizar várias festas pagãs com o intuito de combater os “pecados da carne”.
O carnaval foi uma das festas que se manteve profana. Em 1545, no Concílio de
Trento, o carnaval esteve em pauta e foi considerada uma importante
manifestação popular não devendo, portanto ser hostilizada pelo clero. Sem mais
divagações temporais, o carnaval foi se adaptando às épocas, às realidades e
regiões.
Carnaval, de Jean-Baptiste Debret. Rio de Janeiro, 1823. |
No
Brasil, o carnaval, que desembarcou nas caravelas portuguesas, foi um festejo
selvagem. Os populares costumavam sujar-se de farinha, laranjas podres, restos
de comida e outras coisas mais. As famílias “tradicionais” divertiam-se jogando
água suja do alto de suas janelas nos transeuntes desavisados. Vez ou outra se via
brigas e violência sexual, tratadas com condescendência pelas autoridades
locais. Cometiam-se atrocidades que não lembravam em nada os bailes de máscaras
da Itália Renascentista.
À
medida que o Brasil foi se desenvolvendo e adquirindo características próprias
o carnaval foi se afastando de suas raízes primeiras e assumindo
características culturais de grande importância para o país.
Em
Três Corações muitos carnavais já fizeram brilhar a antiga rua direita.
O
carnaval do clube era o que se podia chamar de um carnaval elitizado, só para sócios e filhos das pessoas que
trabalhavam durante o festejo. Conjuntos musicais cantavam em meio aos confetes
e a purpurina.
As
ruas estavam repletas de blocos de foliões que faziam fantasias iguais. “Pulavam”
na rua e depois iam pro clube. Dentre eles a lembrança de alguns: Bloco do Sujo
(mascarados anônimos), Banda Maluca (saiam durante o dia fantasiados e paravam
no extinto bar Balalaika). No Montese, clube dos militares (hoje Banco Itaú), o
carnaval também era para sócios. O
Panela de pressão para não sócios, concentrava a “balburdia tricordiana”,
próximo à faculdade.
Rei Momo e Rainha do Carnaval. Três Corações, 2011. http://www.trescoracoes.mg.gov.br/galerias2011/carna/fotos.html |
Contava-se
também com o Bloco do Miltão (Milton Gadbem), uma mini escola de samba. Ainda
havia as escolas de samba propriamente ditas: Por Acaso, Jajumo, Imperatriz,
Anhanhoa, Verdão, Cacique...e por aí vai. A abertura do carnaval ficava por
conta do Baile do Bagaço na extinta AABB e o fechamento com o Baile do Havaí,
no clube de campo Umuarama.
As
pessoas iam brincar na praça e numa determinada época, ao amanhecer, queimavam
as fantasias ao redor do coreto. Tudo acabava no bar Balalaika, muitas vezes,
ao som da Velha Guarda que ainda hoje encantam os corações.
Houve
um tempo em que o carnaval na cidade foi muito violento, só saía quem estava
mal intencionado. Foi apelidado de Carnafaca
e era regado a “banho de espuma” de péssima qualidade e o embalo musical ficava
a cargo do axé, num trio elétrico monocórdio.
Hoje
o carnaval em Três Corações está renascendo, bem estruturado, com equipes de
apoio e muita segurança. A diversidade cultural e musical chama a atenção dos
foliões e convida os que gostam da festa a se arrumarem e saírem de casa sem
medo.
O
carnaval é uma espécie de festa camaleão,
pois sempre reflete a sociedade da época em que é comemorado. Em comum a todas
as festas estão os excessos de diversos matizes. Há quem confunda diversão com
perda do bom senso, mas isso é lugar comum e cabe às pessoas assumirem suas
responsabilidades.
A
festa carnavalesca movimenta a economia e fomenta a cultura local. Para os que
gostam é um momento de alegria e originalidade, para os que não gostam um
momento de descanso ou de distrações diferentes.
Tende-se
a pintar de rosa os carnavais passados e sempre dizer: Ah! Os carnavais da
minha época! E criticar pejorativamente os atuais, mas o que vale é viver o
presente e fazer dele uma futura boa lembrança.
*Professora de história, autora e atriz de teatro.
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