7 de mar. de 2012

Nos braços de Momo...


*Nathália Rezende Naves

As origens do carnaval são controversas. Há quem diga que começou no velho Egito 2000 anos A.C., quando o culto à Ísis era realizado por homens e mulheres de corpos pintados. Outros remetem às Saturninas, bacanais ou dionisíacas, festas pagãs gregas e romanas em que se comemorava a chegada da primavera com rituais de fertilidade.

Com a oficialização do cristianismo pelo império romano a igreja passou a sacralizar várias festas pagãs com o intuito de combater os “pecados da carne”. O carnaval foi uma das festas que se manteve profana. Em 1545, no Concílio de Trento, o carnaval esteve em pauta e foi considerada uma importante manifestação popular não devendo, portanto ser hostilizada pelo clero. Sem mais divagações temporais, o carnaval foi se adaptando às épocas, às realidades e regiões.

Carnaval, de Jean-Baptiste Debret. Rio de Janeiro, 1823.

No Brasil, o carnaval, que desembarcou nas caravelas portuguesas, foi um festejo selvagem. Os populares costumavam sujar-se de farinha, laranjas podres, restos de comida e outras coisas mais. As famílias “tradicionais” divertiam-se jogando água suja do alto de suas janelas nos transeuntes desavisados. Vez ou outra se via brigas e violência sexual, tratadas com condescendência pelas autoridades locais. Cometiam-se atrocidades que não lembravam em nada os bailes de máscaras da Itália Renascentista.



À medida que o Brasil foi se desenvolvendo e adquirindo características próprias o carnaval foi se afastando de suas raízes primeiras e assumindo características culturais de grande importância para o país.

Em Três Corações muitos carnavais já fizeram brilhar a antiga rua direita.

O carnaval do clube era o que se podia chamar de um carnaval elitizado, só para sócios e filhos das pessoas que trabalhavam durante o festejo. Conjuntos musicais cantavam em meio aos confetes e a purpurina.

As ruas estavam repletas de blocos de foliões que faziam fantasias iguais. “Pulavam” na rua e depois iam pro clube. Dentre eles a lembrança de alguns: Bloco do Sujo (mascarados anônimos), Banda Maluca (saiam durante o dia fantasiados e paravam no extinto bar Balalaika). No Montese, clube dos militares (hoje Banco Itaú), o carnaval também era para sócios.  O Panela de pressão para não sócios, concentrava a “balburdia tricordiana”, próximo à faculdade.

Rei Momo e Rainha do Carnaval. Três Corações, 2011.
http://www.trescoracoes.mg.gov.br/galerias2011/carna/fotos.html


Contava-se também com o Bloco do Miltão (Milton Gadbem), uma mini escola de samba. Ainda havia as escolas de samba propriamente ditas: Por Acaso, Jajumo, Imperatriz, Anhanhoa, Verdão, Cacique...e por aí vai. A abertura do carnaval ficava por conta do Baile do Bagaço na extinta AABB e o fechamento com o Baile do Havaí, no clube de campo Umuarama.

As pessoas iam brincar na praça e numa determinada época, ao amanhecer, queimavam as fantasias ao redor do coreto. Tudo acabava no bar Balalaika, muitas vezes, ao som da Velha Guarda que ainda hoje encantam os corações.

Houve um tempo em que o carnaval na cidade foi muito violento, só saía quem estava mal intencionado. Foi apelidado de Carnafaca e era regado a “banho de espuma” de péssima qualidade e o embalo musical ficava a cargo do axé, num trio elétrico monocórdio.

Hoje o carnaval em Três Corações está renascendo, bem estruturado, com equipes de apoio e muita segurança. A diversidade cultural e musical chama a atenção dos foliões e convida os que gostam da festa a se arrumarem e saírem de casa sem medo.

O carnaval é uma espécie de festa camaleão, pois sempre reflete a sociedade da época em que é comemorado. Em comum a todas as festas estão os excessos de diversos matizes. Há quem confunda diversão com perda do bom senso, mas isso é lugar comum e cabe às pessoas assumirem suas responsabilidades.

A festa carnavalesca movimenta a economia e fomenta a cultura local. Para os que gostam é um momento de alegria e originalidade, para os que não gostam um momento de descanso ou de distrações diferentes.
Tende-se a pintar de rosa os carnavais passados e sempre dizer: Ah! Os carnavais da minha época! E criticar pejorativamente os atuais, mas o que vale é viver o presente e fazer dele uma futura boa lembrança.


*Professora de história, autora e atriz de teatro.

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