1 de dez. de 2011

A criança pequena

Luís Henrique Sant’Anna

É muito comum a especulação sobre o que acontece depois da morte, contudo é muito difícil ouvir questionamentos sobre o que aconteceu antes de nascermos. Onde estávamos antes de nascer? É claro que teremos as mais diversas respostas, mas não deixa de ser uma reflexão interessante. Gosto de pensar que as crianças, antes de vir para terra encontrar seus pais, estavam sob o zeloso cuidado de seus anjinhos da guarda. Por isso tinham absoluta confiança e veneração para com tudo o que as cercava. Se o pensamento está correto ou não, vai da fé de cada um. O fato é que essas duas forças: veneração e confiança toda criança traz impregnada em seu ser. Essas duas forças devem ser cultivadas sabiamente, pois elas vão se transformando, ao longo da vida, para o bem ou para o mau. Como bem disse meu primo: “os filhos são de Deus, a nós são confiados – por isso, redobre os cuidados”. As crianças a nós confiadas pelo mundo espiritual como pais, avós, tios, professores, etc., devem receber o alimento necessário para seu correto desenvolvimento. Não só o alimento físico, mas também o afetivo e o espiritual.


Imaginem a chegada da criança na terra: ela passa nove meses sendo gestada na barriga da mãe. O organismo materno oferece tudo que necessita. Ela fica quentinha, com pouquíssimas variações de temperatura. Vive num mundo redondo e rítmico seguindo as batidas do coração, as respirações, os ritmos digestivos, etc. Se ela vem ao mundo por parto normal, passa por um processo difícil (tanto para ela quanto para a mãe), mas de grande importância. Isto porque, ao passar o canal vaginal, recebe uma pressão muito especial em todo o seu corpo. Isto fica gravado a vida inteira em sua “memória celular”. É quando, pela primeira vez o bebê percebe os seus limites. Quando escutamos: “essa criança não tem limite!”, podemos perceber que muitas vezes a coisa já começou por aí. 

Antigamente, por uma sabedoria instintiva a criança, após o nascimento, era enrolada no “cueiro” (se você não souber o que é sua avó certamente sabe). Também ficava num ambiente calmo, na penumbra, e não recebia muitas visitas. Isso permitia a ela uma passagem mais tranqüila do mundo intra-uterino para o mundo exterior. Ficava mais calma e se sentia mais segura. Também certo ritmo era mantido: os movimentos da casa, os barulhos, as mamadas, etc.

Não estou sugerindo a volta dos cueiros, e sei que o modo de vida hoje é muito diferente. Mas é importante atentar para o saudável. Uma criança deve mudar a rotina da casa. Ela exige isso principalmente da mãe. A mãe que devota nove meses ao pequeno ser que cresce em seu ventre deve estar preparada para mais alguns meses de sacrifício após o parto. A criança precisa dela. A criança precisa de uma passagem adequada de um mundo para o outro. Quando vivia na barriga da mãe ela tinha uma temperatura praticamente estável em 36 graus, quase nenhuma luminosidade, grande sensação de limite, nutrição regular, ritmos regulares, sons externos baixos. Em alguns casos, em apenas um dia a criança passa desses 36 graus estáveis para variações incríveis de temperatura no tira roupa põe roupa e mudanças de ambiente sem cuidado. Da semi-escuridão para muitos flashes de retrato nos olhos (ainda no hospital) além de luzes fortes, faróis, TV, etc. Da nutrição regular uterina tenta o peito da mãe, e muitas vezes por impaciência passa quase que direto para o leite industrializado onde ela perde em nutrição (nenhum alimento se compara ao leite materno), proteção (o leite materno é uma “vacina natural”). Perde em ouvir de novo o coração e a respiração da mamãe, sentir seu calor, sua pele. Estímulos neuro-sensoriais importantíssimos se dão apenas quando se mama no peito. Além de tudo isso, é invadida por barulhos violentos e estranhos aos seus ouvidos. Entra num ritmo de vida completamente irregular...

Pergunta: Como isso vai atuar sobre essa criança? O que vai gerar neste ser? Respostas para otricordiano@gmail.com.

Na próxima edição continuaremos a falar sobre o desenvolvimento infantil.

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