Luís Henrique Sant’Anna
Imaginem a chegada da criança na
terra: ela passa nove meses sendo gestada na barriga da mãe. O organismo
materno oferece tudo que necessita. Ela fica quentinha, com pouquíssimas
variações de temperatura. Vive num mundo redondo e rítmico seguindo as batidas
do coração, as respirações, os ritmos digestivos, etc. Se ela vem ao mundo por
parto normal, passa por um processo difícil (tanto para ela quanto para a mãe),
mas de grande importância. Isto porque, ao passar o canal vaginal, recebe uma
pressão muito especial em todo o seu corpo. Isto fica gravado a vida inteira em
sua “memória celular”. É quando, pela primeira vez o bebê percebe os seus
limites. Quando escutamos: “essa criança não tem limite!”, podemos perceber que
muitas vezes a coisa já começou por aí.
Antigamente, por uma sabedoria
instintiva a criança, após o nascimento, era enrolada no “cueiro” (se você não
souber o que é sua avó certamente sabe). Também ficava num ambiente calmo, na
penumbra, e não recebia muitas visitas. Isso permitia a ela uma passagem mais
tranqüila do mundo intra-uterino para o mundo exterior. Ficava mais calma e se
sentia mais segura. Também certo ritmo era mantido: os movimentos da casa, os
barulhos, as mamadas, etc.
Não estou sugerindo a volta dos
cueiros, e sei que o modo de vida hoje é muito diferente. Mas é importante
atentar para o saudável. Uma criança deve mudar a rotina da casa. Ela exige
isso principalmente da mãe. A mãe que devota nove meses ao pequeno ser que
cresce em seu ventre deve estar preparada para mais alguns meses de sacrifício
após o parto. A criança precisa dela. A criança precisa de uma passagem adequada
de um mundo para o outro. Quando vivia na barriga da mãe ela tinha uma
temperatura praticamente estável em 36 graus, quase nenhuma luminosidade,
grande sensação de limite, nutrição regular, ritmos regulares, sons externos
baixos. Em alguns casos, em apenas um dia a criança passa desses 36 graus
estáveis para variações incríveis de temperatura no tira roupa põe roupa e
mudanças de ambiente sem cuidado. Da semi-escuridão para muitos flashes de
retrato nos olhos (ainda no hospital) além de luzes fortes, faróis, TV, etc. Da
nutrição regular uterina tenta o peito da mãe, e muitas vezes por impaciência
passa quase que direto para o leite industrializado onde ela perde em nutrição
(nenhum alimento se compara ao leite materno), proteção (o leite materno é uma
“vacina natural”). Perde em ouvir de novo o coração e a respiração da mamãe,
sentir seu calor, sua pele. Estímulos neuro-sensoriais importantíssimos se dão
apenas quando se mama no peito. Além de tudo isso, é invadida por barulhos
violentos e estranhos aos seus ouvidos. Entra num ritmo de vida completamente
irregular...
Pergunta: Como isso vai atuar
sobre essa criança? O que vai gerar neste ser? Respostas para
otricordiano@gmail.com.
Na próxima edição continuaremos a
falar sobre o desenvolvimento infantil.
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