No Rio de Janeiro o Calçadão de
Ipanema, em Três
Corações o Calçadão 18. Guardadas as proporções, cada cidade
possui sua marca registrada.
“Nós devemos olhar seriamente a
Arquitetura como o elemento central e abonador desta influência de ordem
superior da natureza sobre as obras do homem. Podemos viver sem ela, rezar sem
ela, mas sem ela não podemos recordar”.
É com essas palavras de John
Ruskin, escritor e crítico de artes inglês, que começamos esse pequeno artigo
sobre uma das ruas mais importantes de Três Corações: Luciano Pereira Penha.
Alguns vão pensar que rua é essa? E a dúvida logo termina quando se diz: A rua 18 ou o Calçadão
18.
Segundo a literatura memorialista
que graça em nossa cidade essa rua está ali, estreita, desde o início, pra mais
de 127 anos. Já foi rua Aristides Lobo e até Beco da fumaça. Talvez a padaria
que deu origem ao nome Beco da fumaça tenha sido um dos primeiros pontos
comerciais, junto com o açougue do Sr. João. Que avós e pais não conheceram o
cine Zuza? A rua 18 foi e ainda é uma ótima localização, sempre movimentada dá
a impressão de um formigueiro. Embaixo as lojas de artigos variados, lanchonetes
e ambulantes que vendem de frutas da época a artesanatos diversos, em cima, a
memória tricordiana guardada nas fachadas, corroídas pelo tempo, das poucas
casas antigas que lembram os pioneiros de nossa cidade.
Na citação acima Ruskin diz que a
arquitetura sofre a interferência da natureza, ou seja, das intempéries que pouco a
pouco traçam o desgaste, a velhice. A opinião do crítico é contrária a
restauração de patrimônios históricos pois, para ele o tempo é em si mesmo um
grande arquiteto e sua influência se torna parte das construções. Não é
contrário ao novo desde que algumas ‘ruínas’ permaneçam, supervisionadas para
que os olhos do presente vejam nelas o seu passado, a sua história.
Hoje a rua 18 passa por uma
reforma que visa a melhor circulação de pessoas e se preciso for de carros,
como dos Bombeiros, em eventuais necessidades. A maior parte da fiação elétrica
e telefônica tornou-se subterrânea, a rede de esgoto que antes era precária foi
substituída por galerias com várias ligações que atendem às casas e
estabelecimentos comerciais. Os canteiros e postes de concreto foram retirados,
no lugar, algumas floreiras e poucos bancos, o piso será refeito, segundo
algumas informações, parecido com o da Praça Odilon Rezende Andrade. Três
canaletas serão feitas para o escoamento da água da chuva e ligarão as
extremidades da rua. A previsão de entrega era dia 15 de novembro, mas ainda não
foi concluída, ao que parece falta apenas a parte arquitetônica.
O tempo é um ‘senhor’
imprevisível que passa sem impedimento, tampouco sem pedir licença. As obras
humanas são frágeis, por mais concreto que levem, perante sua atuação. Daí a
necessidade de manutenção e preservação. O bem estar de todos está ligado à
administração pública, educação e cultura de cada um. A cidade pertence a seu
povo assim como seu povo pertence à sua cidade. Naquela rua estão depositadas
as lembranças do passado, as ações do presente e as perspectivas do futuro.
Juntas.
*Professora de História, atriz e autora de teatro em Três Corações, apaixonada pela memória tricordiana.
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