Profª Mara Silva Costa
Chediak
Os
casos de lepra existentes no nosso município faziam com que a população
pressionasse os dirigentes para que se viabilizasse o mais rápido possível um
lugar para se isolar esses indivíduos já marginalizados. Secretários de governo
e Prefeitos do Sul de Minas se preocupam com o abandono em que viviam os
portadores do "mal de Hansen" da região. Reúnem - se então em 23 de
agosto de 1933 e aprovam a instalação do Leprosário Santa Fé em Três Corações,
assim como outros em Ubá, Betim (Colônia Mãe), Bambuí e Sabará. Todos eles
Hospitais Colônia.
Para
a instalação da Colônia Santa Fé, o Cartório de Registros de Imóveis de Três
Corações possui registros, entre doações e aquisições, inclusive do General
Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso (essa... outra história!)
Um
total de 4.951.250m2 foi adquirido pelo Estado de Minas Gerais para
que ali fosse instalado o Sanatório Santa Fé, condicionado à conservação do
nome Santa Fé. A concorrência pública é imediata e a construção é entregue a
uma empresa de Belo Horizonte, sendo inspecionada regularmente pelo Secretário
da Educação e Saúde, Dr. Cristiano Machado e por autoridades locais.
A
notícia de que o término da construção do leprosário se aproximava atinge todas
as partes do Estado, de onde vem numerosos portadores de hanseníase, que vão se
abrigando como podem nas adjacências da Colônia. Chegam a pé, a cavalo ou de
trem. Um dos carros da Composição da Rede Mineira de Viação era destinado ao
transporte de hansenianos e possuía um aviso de "moléstia contagiosa".
Quando a Rede desativou seus trens de passageiros, o referido carro foi
incinerado. Isto porque como não havia cura para a moléstia, qualquer portador
da doença era hospitalizado, a revelia de sua vontade, pela sociedade e todos
os seus pertences individuais ou coletivos, inclusive casas, eram incinerados.
Famílias
inteiras chegavam à cidade, às vezes amontoadas em caminhões. As crianças eram apartadas dos pais e iam
para o Preventório, no Educandário Olegário Maciel em Varginha, onde ficavam em
observação.
Com
o aparecimento da Sufena, em 1945, um avanço no tratamento da doença, surgiu o
Parlatório, local onde eram permitidas visitas, que ficavam afastadas e sem
possibilidade de contato com o doente, sempre com alguém por perto encarregado de
fazer cumprir a regra.
A
irmã Lina Tavolarella (pouco mais que uma menina) chegou à Colônia Santa Fé em
1946, logo após o término da Segunda Guerra, para trabalhar ali. Sentia tanta
saudade da família que se ajoelhava no chão de terra batida da antiga
capelinha, rezava, chorava e pedia a Deus que a mandasse de volta para a
Itália. Segundo ela, não faltavam subsídios financeiros para a Instituição.
Faltavam informações e elemento humano para trabalhar: eram 2 ou 3 médicos e
poucos enfermeiros para cuidar de 1200 internos.
Outra
“figurinha” que começou a trabalhar ainda muito nova no Sanatório foi Irmã
Honorina Vieira. Brasileira de Minas Gerais. Com um bom humor imenso, entre um
cafezinho e outro, contou histórias e mais histórias do seu tempo ali. Uma
delas diz respeito a um determinado remédio novo, que ainda provocava
desconfiança nos doentes. Um destes desconfiados, jogou fora suas cápsulas, que
foram “ingeridas” pelo galo que amanheceu com a crista ... colorida, num tom
entre o lilás e o azul...
Os
médicos não colocavam as mãos nos doentes e a distância era cuidadosamente
mantida. Com exceção deles, das freiras e dos frades, todos os funcionários
eram portadores da doença: um tratando do outro. Aplicação de injeção, coleta
de sangue, curativos, etc, eram trabalho dos próprios internos que já tinham
alguma formação profissional na área em sua vida de “antes”. Os dentistas eram práticos
que exerciam a profissão por força das circunstâncias.
Havia
internos com funções específicas, como o intendente (espécie de Prefeito),
Chefe da Guarda (havia guardas nos quatro cantos, para evitar fugas), as
costureiras, copeiros, o eletricista, a equipe de carpinteiros, o bombeiro,
além do pedreiro José Luís Dominiquini, que ajudou na construção da Igreja, da
praça de esportes e do prédio do cinema.
A
comida era feita na cozinha comunitária, porém as famílias que residiam em
casas separadas recebiam cestas básicas (em parte ainda é assim), além de uma
gratificação por serviços prestados. Tudo era fornecido pelo governo: remédios,
alimentação e roupas.
Havia
ainda uma estufa para esterilizar qualquer objeto que saía da Colônia. Se o
doente possuía algum dinheiro e quisesse adquirir um bem, passava as cédulas
para um funcionário que as esterilizava e que ia à cidade para as compras.
Fiquei sabendo da divertida história do Frei Sabatini, que colocou um par de
patins de plástico para ser esterilizado na estufa... Dá para acreditar?
Plim,
plim... Continua no próximo número.
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