6 de fev. de 2012

Colônia Santa Fé


Profª Mara Silva Costa Chediak

Os casos de lepra existentes no nosso município faziam com que a população pressionasse os dirigentes para que se viabilizasse o mais rápido possível um lugar para se isolar esses indivíduos já marginalizados. Secretários de governo e Prefeitos do Sul de Minas se preocupam com o abandono em que viviam os portadores do "mal de Hansen" da região. Reúnem - se então em 23 de agosto de 1933 e aprovam a instalação do Leprosário Santa Fé em Três Corações, assim como outros em Ubá, Betim (Colônia Mãe), Bambuí e Sabará. Todos eles Hospitais Colônia.

Para a instalação da Colônia Santa Fé, o Cartório de Registros de Imóveis de Três Corações possui registros, entre doações e aquisições, inclusive do General Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso (essa... outra história!)

Um total de 4.951.250m2 foi adquirido pelo Estado de Minas Gerais para que ali fosse instalado o Sanatório Santa Fé, condicionado à conservação do nome Santa Fé. A concorrência pública é imediata e a construção é entregue a uma empresa de Belo Horizonte, sendo inspecionada regularmente pelo Secretário da Educação e Saúde, Dr. Cristiano Machado e por autoridades locais.

A notícia de que o término da construção do leprosário se aproximava atinge todas as partes do Estado, de onde vem numerosos portadores de hanseníase, que vão se abrigando como podem nas adjacências da Colônia. Chegam a pé, a cavalo ou de trem. Um dos carros da Composição da Rede Mineira de Viação era destinado ao transporte de hansenianos e possuía um aviso de "moléstia contagiosa". Quando a Rede desativou seus trens de passageiros, o referido carro foi incinerado. Isto porque como não havia cura para a moléstia, qualquer portador da doença era hospitalizado, a revelia de sua vontade, pela sociedade e todos os seus pertences individuais ou coletivos, inclusive casas, eram incinerados.

Famílias inteiras chegavam à cidade, às vezes amontoadas em caminhões.  As crianças eram apartadas dos pais e iam para o Preventório, no Educandário Olegário Maciel em Varginha, onde ficavam em observação.

Com o aparecimento da Sufena, em 1945, um avanço no tratamento da doença, surgiu o Parlatório, local onde eram permitidas visitas, que ficavam afastadas e sem possibilidade de contato com o doente, sempre com alguém por perto encarregado de fazer cumprir a regra.

A irmã Lina Tavolarella (pouco mais que uma menina) chegou à Colônia Santa Fé em 1946, logo após o término da Segunda Guerra, para trabalhar ali. Sentia tanta saudade da família que se ajoelhava no chão de terra batida da antiga capelinha, rezava, chorava e pedia a Deus que a mandasse de volta para a Itália. Segundo ela, não faltavam subsídios financeiros para a Instituição. Faltavam informações e elemento humano para trabalhar: eram 2 ou 3 médicos e poucos enfermeiros para cuidar de 1200 internos.

Outra “figurinha” que começou a trabalhar ainda muito nova no Sanatório foi Irmã Honorina Vieira. Brasileira de Minas Gerais. Com um bom humor imenso, entre um cafezinho e outro, contou histórias e mais histórias do seu tempo ali. Uma delas diz respeito a um determinado remédio novo, que ainda provocava desconfiança nos doentes. Um destes desconfiados, jogou fora suas cápsulas, que foram “ingeridas” pelo galo que amanheceu com a crista ... colorida, num tom entre o lilás e o azul...

Os médicos não colocavam as mãos nos doentes e a distância era cuidadosamente mantida. Com exceção deles, das freiras e dos frades, todos os funcionários eram portadores da doença: um tratando do outro. Aplicação de injeção, coleta de sangue, curativos, etc, eram trabalho dos próprios internos que já tinham alguma formação profissional na área em sua vida de “antes”. Os dentistas eram práticos que exerciam a profissão por força das circunstâncias.

Havia internos com funções específicas, como o intendente (espécie de Prefeito), Chefe da Guarda (havia guardas nos quatro cantos, para evitar fugas), as costureiras, copeiros, o eletricista, a equipe de carpinteiros, o bombeiro, além do pedreiro José Luís Dominiquini, que ajudou na construção da Igreja, da praça de esportes e do prédio do cinema.

A comida era feita na cozinha comunitária, porém as famílias que residiam em casas separadas recebiam cestas básicas (em parte ainda é assim), além de uma gratificação por serviços prestados. Tudo era fornecido pelo governo: remédios, alimentação e roupas. 
Havia ainda uma estufa para esterilizar qualquer objeto que saía da Colônia. Se o doente possuía algum dinheiro e quisesse adquirir um bem, passava as cédulas para um funcionário que as esterilizava e que ia à cidade para as compras. Fiquei sabendo da divertida história do Frei Sabatini, que colocou um par de patins de plástico para ser esterilizado na estufa... Dá para acreditar?


Plim,  plim... Continua no próximo número.

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